quarta-feira, 9 de maio de 2012

Mobilização étnica de Guarani-kaiowá na mídia suscita discriminação e preconceito


O povo Guarani e Kaiowá na mídia local de Mato Grosso do Sul
Mobilização étnica de Guarani-kaiowá na mídia suscita discriminação e preconceito 

Autor: Tonico Benites - é guarani-kaiowá, mestre e doutorando em Antropologia Social da UFRJ.

Nos jornais, nas TVs, nas Rádios FM/AM do Estado do Mato Grosso do Sul é muito comum encontrar notícias relativas aos indígenas que sobrevivem neste Estado. Um dos assuntos que sempre são destacados pela mídia local são os casos de suicídio, violência, morte e desnutrição, entre estes Guarani e Kaiowá das minúsculas reservas.

 É fundamental observar que essa construção e divulgação de informações é um elemento importante para os cidadãos não índios conversarem, discutirem e construírem o seu conhecimento sobre os Guarani e Kaiowá. Frequentemente vemos formas de divulgação na mídia que se expressam claramente de modo discriminante e estigmatizante. Por exemplo: as mortes e assassinatos dos indígenas pelos não índios são classificadas genericamente como de “violência interna”, “alcoolismo”, etc. Os acontecimentos relacionados com a disputa histórica pela terra, a partir da reivindicação e luta pela efetivação dos direitos indígenas são apresentados como de “invasão de terra”e “vandalismo”. Ao mesmo tempo, os comentaristas das mídias locais do Cone Sul divulgam as suas visões se baseando na teoria ultrapassada em função de poderes e interesses econômicos, sem levar em consideração o fato histórico de dominação, colonização do território indígena e confinamento compulsório dos indígenas na minúscula reserva em que estão condenados a ser vítima e sofrer interferência diversa dos não índios.

 De fato, os comentários e as visões apresentada na mídia é sempre resultado de observações superficiais e afirmações de não índios preconceituosos e truculentos. O efeito disto é uma estigmatização nociva para todos os indígenas. Como dito, a luta histórica pela recuperação das terras perdidas com o aldeamento oficial nas reservas é apresentada pelos novos ocupantes do território como um ato altamente violento, perigoso e ilegal. Portanto, a manifestação étnica e reivindicação dos indígenas são comentadas na mídia local como desrespeitando a lei e temidas. Por fim, é possível se afirmar que os comentários divulgadas na mídia local de atual Cone Sul constrói uma visão muito distorcida e superficial sobre a história e a vida dos Guarani e Kaiowá, que não corresponde com o modo como os próprios indígenas narram a história, entendem e vivem as suas vidas, em relação mais ampla com o mundo espiritual dos seus antepassados. Assim sendo, esta visão e a sua divulgação tornam-se uma reprodução de preconceitos e estigmas com relação a um grupo social diferente, contribuindo para reforçar o senso comum preconceituoso e infundado.

Apesar desse senso comum estigmatizante e preconceituoso, colocando em processo de dizimação dos indígenas, porém nas terras indígenas recente recuperadas, é notável que a maioria dos indígenas sobreviventes se auto-reconhecem etnicamente, tentam realizar o seu modo de ser e de viver diferenciados harmoniosamente, pregando religiosamente sua cultura tradicional da paz, mesmo em um contexto de contato interétnico adverso e violento em que sobrevivem. Deste modo, estes indígenas demonstram claramente que nas áreas tradicionais recuperadas, eles revitalizam as boas ações culturais para a vida em paz e sem violência que são redefinidas a partir de sua organização social, política e religiosa próprias que mereceriam também ser entendidas e comentadas por todos os cidadão sul-mato-grossense.

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